INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Olá amigos,

Esse blog é um espaço para a divulgação de notícias de uma forma geral envolvendo todo tipo de matéria sobre a comunicação e marketing católico.

Nos propomos a pesquisar tudo o que existe de matérias sobre a comunicação e marketing católico na web e em outras fontes de comunicação, concentrando-as nessa ferramenta que agora estamos disponibilizando, de forma a facilitar a pesquisa e coleta de informações pelas PASCOM de todas as Paróquias espalhadas pelo Brasil afora. Será também um espaço para divulgação de notícias das próprias PASCOM.

Dessa forma, esperamos que seja um meio onde se poderá encontrar, num só lugar, qualquer matéria publicada que envolva a comunicação e marketing dentro da nossa querida Igreja Católica.

Ajude-nos informando sobre suas atividades, eventos, seminários, encontros, retiros etc, que envolvam os meios de comunicação dentro da sua Paróquia, Vicariato ou Diocese.

Vamos à luta, com a graça de Deus e a força do Espírito Santo, pois COMUNICAÇÃO É EVANGELIZAÇÃO !

Por: José Vicente Ucha Campos

Contato:
jvucampos@gmail.com

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O religioso que não usa a mídia está fora de seu tempo

Rio, 03 de janeiro de 2011.
Fazendo minhas pesquisas sobre a Comunicação e a Igreja Católica, encontrei alguns artigos antigos, que continuam atualizadíssimos. Achei então, interessante, repassá-los aos amigos do nosso Blog, de forma a que possamos refletir no início desse ano e encontrar novos caminhos para a Evangelização utilizando cada vez mais as ferramentas que nos são disponibilizadas atualmente, incluindo aí a internet e todas as suas Redes Sociais. O primeiro artigo então, que colocamos a disposição dos nossos amigos, é um artigo da Revista “Mundo e Missão”, no 53, de autoria de: Paulo da Rocha Lima, de 2001.
Mas, embora seja de 2001, traz uma reflexão atualizada. Vejamos:

“O professor José Marques de Melo é o pesquisador brasileiro que mais tem se dedicado à investigação científica sobre Igreja e Meios de Comunicação no Brasil. Com o objetivo inicial de ajudar a Igreja a reconstruir a sua trajetória comunicacional, Marques de Melo acabou por adotar a Comunicação Eclesial como uma linha de reflexão acadêmica. Professor da ECA/USP, diretor da Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo e assessor de Comunicação da CNBB durante vários anos, considera sua atuação na comunicação da Igreja um serviço motivado pelo compromisso cristão. "Como católico, senti a necessidade e o compromisso de ajudar a Igreja a superar alguns bloqueios comunicacionais".

Como o senhor explica sua atuação junto ao setor de Comunicação da Igreja Católica?

Marques de Melo: Eu me considero extremamente gratificado. Fui um dos primeiros leigos a assessorar os bispos na questão da Comunicação e a intervir na Assembléia Geral da CNBB. Meu trabalho limitou-se muito mais a assessorar, fazer pesquisas e críticas.

Como a Igreja acolheu sua atuação?

Marques de Melo: Vivíamos um momento em que os bispos todos tinham uma postura "apocalíptica", quer dizer, crítica, muito pessimista e negativista em relação à mídia. A tendência era sempre considerar a mídia como um mal que deveria ser combatido e dizimado. Então me propus a sensibilizar os bispos e colocá-los em contato com os meios de comunicação para que pudessem entendê-los por dentro e não simplesmente como alguém que vê aquilo e não quer nem tomar conhecimento. De sorte que me considero extremamente gratificado pelo bom acolhimento que recebi e pelo êxito obtido.

Como os bispos reagiram às suas propostas?

Marques de Melo: Vários bispos demonstraram extremo interesse em compreender aquilo que se passava na mídia, tentando entender o que estava por trás das razões que presidiam as estratégias midiáticas. Eu, depois, reconhecia nesses bispos aqueles que não eram preconceituosos com a comunicação. De alguma maneira eles se sensibilizaram.

Isto ajudou a equacionar o problema da formação teórica e a atuação prática dos profissionais da comunicação na Igreja católica?

Marques de Melo: O problema é que os membros da Igreja católica que adquirem competência comunicacional são freqüentemente desviados para outras atividades. Os que, depois do estudo, vão para a prática, em geral, se tornam mais competentes.
Hoje, eu vejo mais competência no trabalho da Igreja católica, exatamente pela atuação desses que fizeram estudos de comunicação. O que falta é mais incentivo e mais centros de treinamento para a comunicação eclesial.

Então, a formação dos religiosos tem surtido resultados práticos em termos de atuação no universo das comunicações?

Marques de Melo: Sem dúvida. Mas persiste o problema de desvio de rota. Precisaria haver um pouco mais de persistência das pessoas que trabalham na comunicação e, ao mesmo tempo, capacidade de avançar no próprio campo da comunicação eclesial.
O locus para isso deveria ser as universidades católicas, mas elas são as que menos se interessam pela comunicação eclesial. Nas católicas, há uma total despreocupação com esta temática. Quando há, é uma preocupação que depende puramente das pessoas que lá estão estudando; não há linhas de pesquisa nem cursos voltados para isso.
O maior volume de conhecimento produzido nesse campo se encontra na USP e na Metodista e não nas PUCs.

O que o senhor diz dos documentos católicos sobre comunicação?

Marques de Melo: São muito mais ideológicos que operativos. Firmam princípios e doutrinas, mas não avançam muito em relação ao modus faciendi. O mais operativo é o Decreto Conciliar Inter Mirifica. Os outros são muito eivados de ideologia. E o problema é que eles fazem uma análise do valor sem entender a essência, sem entender os processos. É preciso que as congregações e instâncias intermediárias troquem esses documentos em miúdos e passem dos princípios à ação.

Que perspectivas as novas gerações católicas de comunicadores e de estudiosos da comunicação deveriam tomar?

Marques de Melo: Entender melhor os meios de comunicação para estar presente neles e para orientar melhor os fiéis para a relação com esses meios.
O que eu percebia nos bispos nos anos sessenta, ainda paira na comunidade eclesial: um sentimento apocalíptico em relação à mídia, vista como o vilão da história. Não compreendem que os meios de comunicação são usados de acordo com a natureza da sociedade e por isso, julgam os meios como se eles fossem sujeitos de processos em que são meros objetos. Onipresença e onipotência são papéis que eles nunca tiveram e nunca vão ter.
Embora não neutros e eivados de valores, os meios de comunicação fazem parte de uma engrenagem maior que é a própria sociedade, a economia, a política e a cultura.

Que formação dar então aos futuros operadores da comunicação?

Marques de Melo: Uma formação de base. Todo e qualquer centro de formação eclesial deveria ter uma disciplina ligada à comunicação e à mídia. Criar uma mentalidade mais profissional no sentido de entender que essas atividades não são improvisadas e, portanto, não são voluntárias. Todos devem contribuir com o trabalho voluntário, mas não se pode apelar prioritariamente para o voluntariado. A comunicação é uma tarefa para profissionais, religiosos ou não.
A Igreja deveria também priorizar a formação de especialistas nos processos de produção. Formar jornalistas, produtores de rádio, televisão, cinema, publicidade e relações públicas que fossem atuar na operação de sistemas midiáticos eclesiais.
Os mestres e doutores muitas vezes não voltam para a produção. Enveredam-se pela pesquisa e o ensino ou são desviados para outras funções e o meio de campo continua descoberto.

Mas o problema crônico da comunicação eclesial é circulação e audiência...

Marques de Melo: Este problema persistirá enquanto não houver um melhor conhecimento dos processos comunicacionais e melhor interação com o universo cultural da audiência. O problema é que a Igreja, muitas vezes, não quer entender a linguagem do povo e, a partir das motivações da audiência, desencadear processos de comunicação. Há padres que escrevem no jornal diário falando uma linguagem cifrada. Talvez só o bispo ou superior dele entenda. O cidadão comum não. Ora, tem que se falar como o próprio cidadão.

O que o senhor diz dos novos comunicadores católicos?

Marques de Melo: Valorizo muito. Esses padres da televisão hoje lembram os Anchietas. A começar por João Paulo II, o papa da comunicação. Desde o início de seu pontificado, tem dado um exemplo de que ele é a própria comunicação. Ele simboliza no mundo inteiro a fé cristã. Transformou-se no meio e na mensagem.
Os comunicadores brasileiros estão ocupando espaço, sobretudo, no chamado mundo do entretenimento.
A Igreja é muito preconceituosa com relação ao entretenimento. A evangelização é evidentemente uma coisa séria, mas nem por isso precisa se dissociar do mundo do entretenimento, pois este é tão válido quanto o mundo da educação, da política e da informação. Se puder evangelizar entretendo, por que não? Vamos colocar o exemplo dos jesuítas. Como é que Anchieta evangelizou os índios por aqui? Com entretenimento.

Mas os padres da televisão são muito criticados...

Marques de Melo: É um problema ideológico e não comunicacional. São criticados por pessoas que acham que esses comunicadores não deveriam evangelizar, mas politizar. Confundem evangelização com politização. São partidários de uma determinada ideologia e gostariam de ver a mensagem deles sendo ali transmitidas.
Do ponto de vista de estratégias comunicacionais, não vejo nenhuma diferença entre João Paulo II e o padre Marcelo, por exemplo.

A mensagem da Igreja cabe nos meios de comunicação coletiva?

Marques de Melo: O que a Igreja tem a dizer cabe em todos os meios e em todos os lugares. O grande problema não é o conteúdo ou a mensagem. É o meio, é a forma, é o formato. Então é preciso adaptar a mensagem ao formato daquele meio, daquela audiência e daquela circunstância histórica. A idéia da propaganda no sentido do convencimento pelos argumentos e pela fé continua válida. Essa é a grande contribuição da Igreja católica: os processos de propaganda.

Encontra-se muita dificuldade em adaptar a mensagem e os mensageiros cristãos a esses novos modos de comunicar, às novas técnicas, às novas atitudes psicológicas...

Marques de Melo: Esses bloqueios se eliminam com a acumulação de conhecimento. A Igreja não faz acumulação de conhecimento em comunicação. Ela deixa isso de lado como se fosse um mal necessário. Mas a comunicação não é um mal necessário. É inevitável. O mundo moderno é o mundo da comunicação e quem não evangeliza através dos meios de comunicação está evangelizando pouco e é uma pessoa fora do seu tempo.
As experiências da Igreja em Comunicação são atomizadas. Experiências que deram certo não são reproduzidas e outras que dão errado continuam sendo reproduzidas porque estão ali. Precisaria, em termos de coordenação, uma atitude mais sistematizadora, alguma coisa como um grande instituto de comunicação eclesial.

A Igreja deve ter meios próprios ou inserir-se nos meios industriais?

Marques de Melo: As duas coisas. Os meios próprios são capazes de manter a comunidade já organizada e estruturada abastecida por informações que ela deseja. E as pessoas emblemáticas da Igreja precisam estar presentes nos grandes meios. Por exemplo, um bispo precisa, pelo menos uma vez por semana, comparecer às páginas dos jornais, examinar a conjuntura de acordo com os postulados da Igreja Católica. Não para fazer proselitismo, mas analisar questões da vida cotidiana à luz dos preceitos evangélicos. É a Igreja como intérprete daquilo que está nos grandes meios. Mesmo diante de uma mensagem cujo signo é anti-evangélico, a Igreja, estando presente nos meios, pode fazer uma reinterpretação daquilo que ali está.

E o problema do financiamento?

Marques de Melo: Comunicação é sinônimo de capitalismo. Sem se aproximar da lógica capitalista é impossível fazer comunicação coletiva. O que não se pode fazer é exigir o lucro pelo lucro, mas pode-se perfeitamente manter uma vigilância constante e se organizar administrativamente através de bens materiais e simbólicos que não são contraditórios com a fé cristã. Há inclusive empresas capitalistas que fazem isso. São capazes de dizer: "isso aqui não entra". O que falta na Igreja é vontade política e competência operacional.”
Fonte: Revista Mundo e Missão, n.53 - junho/2001