“Comunicação, desafios e possibilidades para evangelizar na era da cultura digital”. Este foi o tema central do 4º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação, realizado em sintonia com o 2º Seminário de Jovens Comunicadores, de 24 a 27 de julho, no Centro de Convenções de Aparecida, em São Paulo.
Mais de 900 pessoas, representando os comunicadores da Igreja no Brasil, participaram desta edição, que contou na conferência de abertura, com o padre Antonio Spadaro, SJ, doutor em teologia, e diretor da revista “Civilità Catttolica”.
“A internet não é a tecnologia, não são os tablets e iphones, são as pessoas”, explicou padre Spadaro. E fez questão de recordar o pensamento do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações deste ano, quando afirmou que a rede social pode ser um lugar rico de humanidades: “uma rede de pessoas humanas. Este é o pensamento do Papa”.
Autor de livros sobre a web, padre Spadaro reforçou sua teoria de que a internet é a experiência, que os fios, cabos e os computadores tornam possível a comunicação e, citou o Papa Bento XVI , que já havia, em 2013, também na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, deixado claro que a internet é parte da realidade cotidiana de muitas pessoas:
“Quando falamos de instrumento de comunicação erramos. A internet não é uma ferramenta de evangelização e não é um instrumento. É um ambiente.
A IGREJA EM TEMPO DE REDE
Padre Spadaro propõe ter em mente três vertentes: a rede é um ambiente e uma experiência; a evangelização não é a transmissão da fé, mas a vivência da fé, e que não se comunica um conteúdo se não existe relações.
Para o jesuíta, conectar os conteúdos às pessoas é a coisa mais importante no mundo digital. “Por que o Papa é um revolucionário? Porque não basta a proximidade. Ele tem a capacidade de colocar o conteúdo do Evangelho para as pessoas. Quem Evangeliza hoje não é chamado a pregar, no sentido real do termo, mas desenvolver relações conectadas com a mensagem do Evangelho. Fazer de modo que o Evangelho gere relações, paixões, diálogo e reações”.
PACIÊNCIA DIVINA
O primeiro painel do encontro, após a celebração Eucarística, na manhã do dia 25, sobre o tema “Evangelização e espiritualidade na cultura digital”, foi apresentado, através da videoconferência de Dom Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.
Dom Celli destacou que somos chamados a dar testemunhos e que as redes sociais são cada vez mais ambientes de vida. Diante da velocidade da comunicação no mundo atual devemos apreender com a paciência de Deus: “(Eu) me pergunto em que medida somos capazes, nós comunicadores, de explicar aos jovens o sentido da paciência de Deus? Neste ambiente digital temos que dar testemunho que estamos convencidos e seguros, que Ele nos acompanha”.
CONECTAR É DIALOGAR
O jornalista e professor Élson Faxina, do Paraná, abordou, em seguida, as questões socioculturais provocadas pelas tecnologias digitais, e frisou que é necessário entender como as pessoas estão hoje, pois conectar-se significa dialogar, o que vai de encontro com a proposta cristã: “Surge um novo sujeito que quer ser indivíduo e protagonista. Esse é o ponto central. Quais os desafios para a evangelização? Trabalhar a diferença entre temer a Deus e ter medo de Deus. Não impor a fé, mas propor a fé”, disse, ao afirmar que o papel do comunicador é fazer comunicação com a sociedade.
OFICINAS E PRÊMIOS
Diversas oficinas foram oferecidas aos participantes na parte da tarde, com temáticas que variavam entre “Teoria e Prática na Web”, “Convergência Midiática”, “Arte e Assessoria de Imprensa”. Na noite do dia 25 foi oferecido um show com vários artistas expoentes da música católica, em comemoração ao lançamento oficial do Diretório da Comunicação da Igreja no Brasil. Algumas personalidades do mundo da comunicação foram homenageadas, e o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, entregou prêmio ao jornalista João Monteiro de Barros Neto, presidente da Redevida, pelo seu amplo trabalho de evangelização, através da televisão.
VIVER A FÉ EM TEMPOS DE REDE
O tema escolhido no segundo e último painel do encontro foi “Ciberteologia: a vivência da fé em tempos de rede”, proferido pelo padre Antonio Spadaro:
“Considerando que a rede muda o modo de pensar das pessoas e, se a teologia é pensar a fé, pergunto como a rede muda o nosso modo de pensar a fé?”, questionou o jesuíta.
E motivou a todos a estudar a ciberteologia para pensar a fé nesses tempos em que estamos mergulhados nas redes digitais. “O método? Experiência, reflexão, ação e avaliação”, ensinou.
O teólogo lembrou que para o Papa Francisco o continente antes de ser uma realidade tecnológica é um lugar de encontro, cujos desafios não são virtuais e, sim, reais. “Lugar de encontro entre homens e mulheres. Devemos pensar a nossa fé, segundo esta intenção”, acrescentou o jesuíta.
UMA IGREJA EM SAÍDA
O jornalista e escritor Moisés Sbardelotto se ocupou do “Novo Diretório de Comunicação” e fez um resumo dos dez capítulos da obra, que em 270 itens entende a pastoral como um processo que vai se desdobrando na prática. Trata-se de uma comunicação na perspectiva da cultura do encontro, de uma igreja “em saída”, disse. Lembrou que cada capítulo traz pistas de ação, e convidou a plateia a, além de aprofundar o conteúdo da obra, transformar as pistas sugeridas em realidades concretas em cada comunidade pastoral.
ACOLHER BEM TAMBÉM É EVANGELIZAR
Na conclusão dos trabalhos foram destacados alguns pontos para provocar os participantes na missão de serem agentes multiplicadores do encontro em suas dioceses. Entre eles, o bispo auxiliar de Aparecida Dom Darci José Nicioli, anfitrião do evento, insistiu na formação presencial e virtual como forma de integração entre os agentes não só da Pastoral da Comunicação, como também de outras pastorais.
Já o palestrante convidado, padre Spadaro, destacou que “nos canais digitais não se faz propaganda e, sim, testemunho de vida cristã. O primeiro é a acolhida. Se a nossa pastoral não é missionária não é pastoral. Se ela é missionária é apostólica. Somos todos chamados a ser apóstolos de Jesus Cristo e da nossa Igreja. Apostolado para quem crê e quem não crê. Acolher bem também é evangelizar”, finalizou, referindo-se ao que o peregrino lê no portal de entrada do Santuário de Aparecida.
Fonte: ARQRIO