Estamos diante de uma profunda mudança de paradigma. Alguns conceitos clássicos como temo e espaço são desafiados pela expansão da internet. No ciberespaço, é difícil até imaginar o que seria “espaço”; poderíamos até pensar no espaço disponível no meu pendrive, mas qual o limite da internet? O tempo dá lugar à velocidade; não se pergunta mais quanto tempo precisa para pagar uma conta ou fazer uma pesquisa sobre as muralhas da China. Depende da velocidade – quase da luz – disponível pelo meu servidor de internet. Posso pagar uma conta sem precisar ir ao banco, ir até a China sem sair de casa. Tudo é instantâneo, bem diferente do ônibus que tenho que pegar para a faculdade, do engarrafamento que me faz chegar atrasado ao meu compromisso ou do avião que precisaria cruzar a metade do globo para chegar ao meu objetivo.
A este momento, poderíamos nos perguntar se devemos considerar esse ambiente como real ou virtual. Chegamos ao ponto principal da questão: a ideia de que a internet não passa de um mundo da imaginação ou, ainda, de qualquer coisa que não seja real – só porque não é material – pode nos causar dúvidas do que podemos ou devemos fazer neste ambiente.
A má compreensão do que seja esse ambiente, ou do que seja o pecado, pode fazer com aquele que navega na internet se permita a coisas que não se permitiria quando as pensa na “vida real”. Invadir um computador e ver os dados, descobrir a senha da rede social do seu amigo, mentir, adulterar, e até coisas piores, no ambiente virtual, parece não ser pecado, mas o é. A tela do computador parece ser uma proteção: “as pessoas não estão me vendo” – pode pensar aquele navega.
Quanto ao que seja o pecado, Jesus nos ensina que aquilo que nasce dentro, nasce no coração, o pensamento impuro, já é pecado (cf. Mt 5, 28). Logo, não é necessário externalizá-lo para ser ofensivo a Deus. Entretanto, na internet, pecados são externalizados e ofensivos não só a Deus como aos outros. Não é difícil ouvir falar de pessoas que sofrem com o bulling, muitas vezes virtual!
Quanto ao ambiente, é necessário dizer que tudo o que se faz “on-line” tem consequências na sua vida “off-line”. Logo, pegar a senha do seu amigo para descobrir os seus segredos é tão feio quanto entrar no quarto dele escondido e vasculhar todas as suas coisas. Manipular um banco de dados para lucrar algo para si é tão errado quanto subornar o funcionário para ganhar um aumento no salário.
Devemos estar atentos, porque a internet, apesar de ser um poderoso meio de evangelização em potencial, como já temos falado nos artigos anteriores, pode ser – para quem quer ser santo – um arriscado meio de perdição. Com isso, não estamos sugerindo que não utilizem a internet. Ao contrário, devemos “estar no mundo, mas sem sermos mundanos” (cf. Jo 17, 11).
Temos o dever cristão de estar neste ambiente para ser sal e luz, para levar a luz, e não nos deixarmos imergir nas trevas.
O pecado virtual existe e nos faz tão mal quanto os não virtuais. Do mesmo modo, a evangelização por meio da internet pode ser tão frutuosa quanto uma evangelização fora da internet.
Neste ambiente, podemos encontrar pessoas que talvez nunca fossemos encontrar ou que talvez nunca nos escutassem. É possível não só cometer verdadeiros pecados, mas, sobretudo, fazer o bem de verdade, ajudar as pessoas, ser caridoso, exercitar-se nas virtudes, unir-se por uma causa solidária etc.
O desafio do evangelizador neste ambiente é o mesmo: sair de si para ir ao encontro do outro. Esse é o mandamento: “Amai-vos uns aos outros” (cf. Jo 15, 12), e o convite para segui-lo é: “Esquece-se de si mesmo” (cf. Mc 8, 34). A conversão é necessária para qualquer evangelizador; o testemunho autêntico pode e deve ser dado também neste ambiente ou estaremos fadados a palavras estéreis que não ajudam ninguém, e que, ao contrário de aproximar, afastam.
Em resumo: vale a pena evangelizar pela internet. Há pessoas sedentas que esperam por alguém que se aproxime e ajude com palavras confortantes, com testemunho de fé e com o convite para uma vida verdadeiramente cristã. Pessoas REAIS esperam por nós neste ambiente e evidentemente fora dele.
Franco Michel Silva Galdino
Artigo originalmente publicado na Revista Shalom Maná
Fonte: Aleteia