INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Olá amigos,

Esse blog é um espaço para a divulgação de notícias de uma forma geral envolvendo todo tipo de matéria sobre a comunicação e marketing católico.

Nos propomos a pesquisar tudo o que existe de matérias sobre a comunicação e marketing católico na web e em outras fontes de comunicação, concentrando-as nessa ferramenta que agora estamos disponibilizando, de forma a facilitar a pesquisa e coleta de informações pelas PASCOM de todas as Paróquias espalhadas pelo Brasil afora. Será também um espaço para divulgação de notícias das próprias PASCOM.

Dessa forma, esperamos que seja um meio onde se poderá encontrar, num só lugar, qualquer matéria publicada que envolva a comunicação e marketing dentro da nossa querida Igreja Católica.

Ajude-nos informando sobre suas atividades, eventos, seminários, encontros, retiros etc, que envolvam os meios de comunicação dentro da sua Paróquia, Vicariato ou Diocese.

Vamos à luta, com a graça de Deus e a força do Espírito Santo, pois COMUNICAÇÃO É EVANGELIZAÇÃO !

Por: José Vicente Ucha Campos

Contato:
jvucampos@gmail.com

domingo, 15 de maio de 2011

O Papa João Paulo II e a comunicação da VERDADE através da Mídia.

João Paulo II passou para a história como um grande comunicador. Seu porta-voz, Joaquín Navarro-Valls, diretor da Assessoria de Imprensa de 1984 até o início do pontificado de Bento XVI, fala da experiência com o papa polonês nesta entrevista

- Podemos dizer que João Paulo II foi o papa por excelência da comunicação, “midiático” desde o instante em que foi eleito. De onde vinha essa relação dele com a mídia?

É uma pergunta que eu me fiz várias vezes, especialmente quando trabalhava com ele. Como é que uma pessoa que nasceu, que foi educada, por assim dizer, num contexto, a Polônia do regime marxista, que cresceu numa cultura onde virtualmente não existia a opinião pública, onde ninguém acreditava nos jornais, os jornais do partido ou a televisão ou a rádio do partido, enfim, como é que essa pessoa, apesar de tudo isso, tinha aquela grande sensibilidade perante a opinião pública? É uma pergunta muito interessante.
Um papa tem como bagagem aquele universo de valores humanos e cristãos, para ser comunicados. Então, numa época como a nossa, em que a comunicação não é só inevitável, mas está na base de tudo, da interação humana, social, das pessoas, mas também dos povos, um papa não podia ficar de fora dessa dialética com a mídia. Às vezes me diziam: mas como é que nós podemos utilizar a mídia? Não é questão de utilizar a mídia, é muito instrumental falar desse jeito. O tema é: quer comunicar, quer falar com as pessoas, então existe a mídia. E você tem que aceitar as regras da mídia, que são uma série de regras próprias do meio, do meio televisivo, do meio radiofônico, dos meios impressos; aceitar essa dialética e se comunicar com essa dialética. É isso o que ele fazia. Ele não fugia de perguntas nem de situações em que a mídia poderia fazer certas perguntas.

- Como João Paulo II usava os meios de comunicação?

Essa comunicação com as massas, ele fazia de um jeito que não era uma conversa com a massa, mas uma conversa com cada uma das pessoas que formavam o conjunto de uma comunidade. E era isso o que atraía, o que fascinava. Fascinava acima de tudo o mundo da mídia. Eu vou lhe dizer que durante todos aqueles anos, mais de vinte anos que eu trabalhei com ele, nunca senti a necessidade de, vamos dizer assim, chamar o interesse da mídia para o papa. O meu trabalho era outro, talvez mais difícil: era o de não decepcionar as grandes expectativas que a opinião pública tinha no papa. Não só quando ele era um jovem papa, ou um papa já maduro, nem só nos últimos dias, quando ele já estava partindo. Era o trabalho de não desapontar aquelas expectativas. Ele era uma figura que falava para toda uma época, para toda uma geração do mundo, e dizia coisas que eram justamente aquelas verdades  que as pessoas, no fundo, esperam de um papa.

- João Paulo II falou, numa mensagem para os meios de comunicação social, em 1987, sobre a “estratégia da confiança”. Ele convidou a mídia a ser portadora dessa estratégia da confiança. O que é isso?

Confiança mútua, confiança mútua. Essa confiança mútua com a mídia quer dizer o quê? Que tudo é comunicável, até a dor, a doença, as dúvidas. A única coisa que não é comunicável é a mentira. A mentira é a coisa que não é comunicável. Com esta base, quem transmite e quem emite uma mensagem, quem faz a mensagem e a transmite, tem que ter uma confiança mútua. Nós tivemos que falar, em muitíssimos casos, de temas que eram controversos para a opinião pública. Nunca existiu uma dúvida quanto à sinceridade com que o papa transmitia o seu pensamento. Isso era uma estratégia realmente da mútua confiança.

- Qual era a opinião de João Paulo II sobre o papel dos jornalistas, dos comunicadores?

Ele pensava, acima de tudo, nas pessoas que trabalhavam no mundo da mídia. Eu me lembro de uma história. Uma vez, uma pessoa tinha feito um julgamento que patentemente não era verdadeiro sobre uma situação do papa. Eu disse a ele: “Essa pessoa, Santo Padre, sem dúvida foi injusta”. O raciocínio que ele fez enquanto ficou pensando um pouco: “Talvez essa pessoa, o jornalista, quem sabe os problemas que ele tinha aquele dia em casa, com a mulher, com os filhos, problemas financeiros, afetivos”. Quer dizer, o pensamento dele era não tratar a mídia como uma coisa, onde não existe um alguém, como um fenômeno que não se sabe quem é que faz, mas sim como pessoas concretas. E ele procurava, tudo o que podia, criar também o contato pessoal com os jornalistas. Isso acontecia direto nas longas viagens intercontinentais, no avião. Eu me lembro de uma vez, no avião, quando voltávamos do Pacífico, que eu levei um jornalista para jantar com ele. Não para que ele publicasse alguma coisa. Numa cabine pequena, onde estava o papa, não cabem todos os jornalistas. “Então convide pelo menos um”. E aquela pessoa desconcertada, de jantar com o papa, jantando no avião, era uma coisa incrível.

- João Paulo II chegava a pedir conselhos de tipo técnico? Por exemplo, como se posicionar diante das câmeras?

O papa tinha uma enorme confiança no profissionalismo. Não estou falando no pessoal, falo de profissionalismo de todos, incluindo os colaboradores dele. Vou contar um caso. Uma noite, ele me chamou para jantar. Era comum falar de assuntos de trabalho no jantar ou no almoço. Ele me contou que tinham diagnosticado um tumor no intestino dele, e a hipótese naquele momento era que esse tumor fosse grave, maligno. Ele contou todos os detalhes. E me falou o seguinte: “Domingo, depois do ângelus, eu vou falar só uma linha sobre isso. Rezem pelo papa, que vai fazer um tratamento num hospital. Mas você, que já sabe de tudo, diga o que achar melhor, o que achar conveniente”. Eu conto isso como um exemplo dessa confiança no profissionalismo das pessoas. Às vezes ele pedia sugestões. O que não quer dizer que ele sempre seguia as sugestões. Era ele quem decidia. Mas ele pedia conselhos muito seguido. Quanto às câmeras, você sabe muito bem que qualquer personagem público, e não estamos falando só do nível do papa, mas de níveis bem mais modestos, quando aparecem em público têm um assessor de relações públicas que fica dizendo: “Quando for falar num tom intimista, olhe para a direita, que a câmera vai pegar o seu rosto num plano fechado. Quando for fazer o gesto, olhe para a outra câmera”, e assim por diante. É ridículo, nunca me passou pela cabeça dizer uma coisa assim para o papa. Nem nas grandes cerimônias públicas, nas cerimônias litúrgicas ou discursos para as Nações Unidas, nunca. Eu me lembro de um comentário numa das viagens para os Estados Unidos, foi em 87, um grande jornal americano que fez uma análise da figura do papa na televisão. Era muito interessante aquela matéria. No fim das contas, ele dizia o seguinte: “Este é um homem que domina a televisão. Pode-se dizer, em termos italianos, que ele buca lo schermo, ele perfura a tela, ele simplesmente ignora que está na televisão”. Ou seja, é ele quem cria, com as verdades que vai dizendo, ele cria o clima, e não interessa se tem ou não tem uma câmera ali ou aqui. São as câmeras que vão atrás dele, não é ele que vai atrás das câmeras. É claro, isso é possível quando o centro da mensagem que se comunica é uma verdade da qual se está mesmo convencido. Você não precisa fazer esforço para convencer os outros. Ele não gostava nunca de vencer as pessoas, mas de convencer.
Com essa base, ele mostrava uma imagem que era dele mesmo, que era tremendamente autêntica, e as pessoas que escutavam diziam “gostei” ou “não gostei”, mas “é sincero isso que ele falou”. Ele era a melhor testemunha de si mesmo. Era ele, com a imagem dele, que conseguia convencer as pessoas de que as suas ideias, a sua mensagem, era verdadeira. E tinha aquela unidade absoluta entre o conteúdo conceitual das ideias e a expressão dessas ideias.

- A informação vaticana é muito delicada: João Paulo II queria ser informado sobre o modo como vocês comunicavam eventos, decisões, ou ele confiava no trabalho de vocês, dos colaboradores?

Eu penso mais que ele confiava nos colaboradores. E posso contar mais uma coisa como exemplo. É claro que o papa, em todos os anos de pontificado, recebeu muitíssimos chefes de Estado, inclusive em tempos difíceis. Quando essas pessoas saíam da biblioteca dele, entrava eu e o papa me contava toda a conversa. Porque ele sabia que tinha que dar alguma informação para a opinião pública. Nunca, absolutamente nunca, ele me disse “Guarde isto só para você”. Ele me contava com naturalidade os assuntos, e deixava que o profissionalismo das pessoas que o ajudavam nessa área decidisse o que, de tudo aquilo, era próprio para a opinião pública, e o que não era de interesse da opinião pública.

- João Paulo II se maravilhou, em algum momento, com a evolução da técnica?

Esta pergunta me faz lembrar de uma tarde, eu acho que era 84, ou 85, quer dizer, ainda estávamos bem nos inícios da difusão da internet. Eu me lembro do assunto da conversa. “Santo Padre, sabe do que se trata?”. “O nome é familiar. Mas me explique”. Eu expliquei, naturalmente foi uma explicação naquele tempo bem simples: “É isto, Santo Padre, e a internet abre possibilidades”. Ele entendeu imediatamente o assunto, em grandes traços, e a pergunta que ele fez foi: “Nós já estamos dentro?”. Nós, quer dizer, a Santa Sé. “Não, Santo Padre, ainda não”. “E depende de quem?”. “Do senhor, Santo Padre?”. “Então, decidido: faça!”. Ele entendia a importância do assunto e decidia rápido. “Faça! Perfeito!”. E começamos. Não é que ele se interessasse por informática, pelos aspectos técnicos. Ele se interessava pela visão de conjunto do fenômeno. Uma vez que entendia, ele usava ou estimulava os outros a usarem.

- O que mudou, depois de João Paulo II, na comunicação do Vaticano e da Igreja?

Não dá certo uma estratégia do tipo “é melhor que falem pouco de nós e, se disserem alguma coisa que não é verdadeira, nós corrigimos”. Isso já é começar perdendo. Não podemos ficar assim diante dos meios de comunicação; na dinâmica da comunicação social não podemos ser reativos. Reduzindo tudo a uma consideração muito elementar, eu acho que a comunicação em geral, a comunicação social, é como uma grande caçamba vazia. A questão é quem coloca primeiro alguma ideia naquela caçamba. Porque depois todo o resto vai atrás daquelas ideias. Então você precisa ser propositivo. E de um jeito intuitivo. João Paulo II entendeu isso perfeitamente. Ele não esperava ou não queria ir atrás da agenda na opinião pública de outros. A questão para ele era a proposição contínua daquele universo de valores que eu mencionei antes, dos quais ele se sentia depositário como papa. E dessa postura positiva, propositiva, o resultado é que toda a opinião pública ia atrás. Não podia ignorá-lo naqueles temas, nem queriam ignorá-lo.

- O que você aprendeu como comunicador nessa relação com João Paulo II?

Tudo é comunicável, tudo pode ser comunicado. Muito deve ser comunicado. A única coisa que não é comunicável é a mentira e o engano. Isso não é comunicável. Nem para passar uma boa imagem. Nem para isso. Se todos aprendessem isso, se todos aprendessem isso, então sim o mundo da comunicação seria mais positivo. Ajudaria mais a vida individual e a vida social.

- O que você aprendeu, como homem de fé, com João Paulo II? Algum episódio particular que fica no coração?

Uma vez eu fiz uma pergunta estúpida, mas o papa respondeu mesmo sendo estúpida. Nós estávamos nas montanhas, caminhando bem no alto. Era verão. “Santo Padre, se por acaso queimassem o evangelho, se ele desaparecesse da terra, e o senhor tivesse a possibilidade de salvar só uma frase do evangelho, que frase seria?”.
A pergunta é completamente estúpida. Mas ele não teve dúvida nem por um segundo. “Aquela frase do evangelho de São João que diz que ‘a verdade vos libertará’”. E acrescentou: “Faz mais de trinta, quarenta anos que eu penso nessa frase e ainda continuo pensando. A verdade liberta o ser humano”. É o reflexo dele, não é? A mentira não liberta o ser humano. Ele era um homem apaixonado pela verdade. Não só pela verdade de Deus, mas pela verdade das coisas. A verdadeira natureza das coisas. As coisas humanas, as coisas do mundo físico. Por isso, quem sabe, aquela minha pergunta tão estúpida ele respondeu dessa forma egrégia. A verdade vos libertará. Aquela frase eu destacaria.

- Também através da mídia, que levava para todas as casas aquela imagem frágil e sofredora dos últimos tempos, João Paulo II deu lições para enfrentar o sofrimento. O que você diz a respeito disso?

Ele soube ensinar o sentido da dor humana numa cultura pós-moderna, a nossa, que vê a dor, a velhice, a fraqueza física como um escândalo, porque não tem resposta, não sabe o que fazer com isso tudo. O resultado é que, na vida social, existe a tendência a fazer sumir tudo o que é dor humana, mesmo sabendo que doença, dor, morte, são a experiência humana mais universal. Todos os seres humanos, mais cedo ou mais tarde, conhecem essa dimensão. E ele soube dar uma resposta enorme, e de um jeito magnífico, primeiro com os escritos e depois com a própria vida. É uma eloquência que chegou ao mundo inteiro, a toda a cultura da nossa época.
Porque temos que tentar entender qual é o sentido daquela dor, o que é que eu posso fazer com a minha dor, para que serve aquela pergunta tremenda que ele soube responder na vida, e, acredito eu, na vida de tanta gente.

- O que você sente agora, com a beatificação de 1º de maio?

Provavelmente os mesmos sentimentos que eu tive um minuto depois do falecimento dele. Uma grande gratidão a essa pessoa que naquela hora não estava mais aqui, uma grande gratidão pela riqueza da vida dele, que naturalmente depende em parte da graça de Deus, mas em grande parte também dele mesmo. Aquela pessoa que soube manter em toda a sua existência humana a flexibilidade interior, vamos dizer assim, para responder sempre “sim” a tudo o que Deus lhe pedia. Como todos nós sabemos, eram muito sérias as coisas que Deus pedia dele. Saber dizer que sim: bom, é isto que é um santo, no fim das contas.
Fonte: site da Comunidade Shalom - Blog Carmadélio