INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Olá amigos,

Esse blog é um espaço para a divulgação de notícias de uma forma geral envolvendo todo tipo de matéria sobre a comunicação e marketing católico.

Nos propomos a pesquisar tudo o que existe de matérias sobre a comunicação e marketing católico na web e em outras fontes de comunicação, concentrando-as nessa ferramenta que agora estamos disponibilizando, de forma a facilitar a pesquisa e coleta de informações pelas PASCOM de todas as Paróquias espalhadas pelo Brasil afora. Será também um espaço para divulgação de notícias das próprias PASCOM.

Dessa forma, esperamos que seja um meio onde se poderá encontrar, num só lugar, qualquer matéria publicada que envolva a comunicação e marketing dentro da nossa querida Igreja Católica.

Ajude-nos informando sobre suas atividades, eventos, seminários, encontros, retiros etc, que envolvam os meios de comunicação dentro da sua Paróquia, Vicariato ou Diocese.

Vamos à luta, com a graça de Deus e a força do Espírito Santo, pois COMUNICAÇÃO É EVANGELIZAÇÃO !

Por: José Vicente Ucha Campos

Contato:
jvucampos@gmail.com

quinta-feira, 12 de março de 2015

COMUNICAR - OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO



No final de 2013, no Convento São Boaventura, Campo Largo – PR, aconteceu o primeiro encontro da Frente de Evangelização da Província (para ler sobre o evento:http://www.franciscanos.org.br), assessorado pelo professor Ciro Marcondes Filho, cientista social, jornalista e professor da USP.

De forma bem humorada e leve, mas igualmente arguta e precisa, colocou para os presentes o verdadeiro desafio da comunicação: o que é comunicar? – para além de publicar no jornal, na internet. Seguem algumas das mais marcantes reflexões do professor Ciro.

Há um sentido extra sociológico de comunicação e que não existe no Brasil. A sociologia no Brasil parece mais voltada aos meios, deixando de lado o como nós, como seres humanos, nos relacionamos com o que vivenciamos diariamente com imagens e informações.

Comunicação é um fato raro e não acontece facilmente, exigindo um empenho da pessoa que comunica e certo conhecimento da pessoa que recebe. Ela é um fenômeno. (o professor tem simpatia pela fenomenologia – participar junto do processo para entendê-lo melhor).

É importante separar comunicação de sinalização e informação

Sinalizar: tudo no mundo sinaliza. Parte-se do princípio de que o universo é povoado de pessoas e coisas que sinalizam; existir é sinalizar, surgir no nosso campo visual. Tudo está buscando uma forma de se fazer mostrar e conhecer. No processo comunicacional somos todos emissores (de forma passiva), que os outros podem ou não se dar conta. Comportar-se é sinalizar: o modo como nos mostramos diante do outro. Todos existindo se comportam. Não dá para não sinalizar. Mas nem tudo que sinaliza nos interessa. O mundo é carregado de sinais externos, sensoriais. Mas não se dá importância a todos, fazendo-se alguma filtragem. Apenas alguns sinais nos importam.

Os sinais que olhamos são os que nos interessam. O interesse separa a sinalização da informação. Quando nos voltamos para algo, aquilo que era mera sinalização torna-se informação. Ela não existe por si mesma: é o sinal que vou atrás, que me chama atenção: um acidente, por exemplo – eu quero saber! Uma biblioteca ou um jornal não têm informação – é necessário o interesse de alguém para que aquele conteúdo torne-se informação. Olhamos por interesse, mas também por que somos atraídos pelo olhar. Às vezes somos fisgados: a publicidade leva a nos voltarmos para certos sinais que, de outro modo, não nos interessaríamos – isso é sedução!

Mas isso não é ainda comunicação. Para comunicar é preciso algo mais que sinalização (passiva ou ativa – atenção) e que informação. A coisa tem que nos fazer pensar, forçar a pensar. Aí a diferença. Quando leio um jornal, busco informações. Não compro qualquer jornal, eu escolho, segundo sua harmonização comigo (a informação não é conflitiva – apenas amplia minha base de dados para tomar decisões). É uma função de reforço. A comunicação pode alterar o que pensava antes, pode transformar. Tem que provocar reposicionamento. Faz com que eu reflita sobre minhas próprias posições.

Uma nova teoria da comunicação para repensar a comunicação

Antes se pensava em passar mensagem: transmissão, transferência de uma mensagem / recepção. É a ideia de pôr algo na cabeça do outro. E funcionou por muito tempo o “modelo canônico”, proposto pelo engenheiro americano Claude Elwood Shannon (1916-2001). Uma fonte que manda uma mensagem por um transmissor chega a um receptor e daí a um destino, quase como um circuito elétrico.

Esse modelo foi questionado pelos próprios americanos, por não servir para humanos. Por que a ideia não é passar algo a outro. Não se sabe o que ocorre na cabeça do outro, como ela é traduzida aí. Essa passagem implica uma transformação: ela é integralmente incorporada pelo outro? Somos seres insondáveis!

Por isso, falar de transmissão supõe que algo é recebido integralmente. O que não se dá realmente. A decodificação é pessoal. A metáfora da transmissão é equivocada por que é física: o objeto é facilmente incorporado pelo outro, ignorando que vivemos em ambientes culturais distintos. A comunicação é fenômeno complexo. O outro recria, por conta própria, o que ouviu (o professor recordou aqui a teoria da autopoiese, dos biólogos chilenos Varela e Maturana).

O mundo externo está longe de ser objetivo e o mesmo vale para cada um dos que podem (mesmo os que não sabem) ler esse texto. O que construímos em nossa cabeça não é necessariamente o que está lá fora. Não há um mundo igual para todos.

Comunicação é uma relação dependente do outro, do clima, do como o outro ouve, do seu humor. A informação é relacional: o que é informação para mim não o é para o outro. Do mesmo modo a comunicação: o que é comunicado a mim não o é ao outro. Ela depende de nossa reação, de um conjunto de forças presentes no espaço durante o processo comunicacional. Nunca se repete da mesma forma. É variável.

Necessitamos do outro. Nossa relação com o mundo necessita do outro. Sem o outro não há comunicação. Fechado em mim, não posso entrar em comunicação. Precisamos do outro para nos transformar. É possível uma transformação em nós. A comunicação nos transforma no sentido de abrirmo-nos ao outro, transformando-nos.

Mas para isso ocorrer:

-- é preciso sair do casulo e abrir-se ao diferente;
-- não passar superficialmente pelas coisas, mas fazer uma imersão, vivenciar as coisas – viver cada momento;
-- não ver o outro como coisa – me relacionar com ele. (se o facebook fosse presencial, todos ficariam chocados, com pedidos inusitados, às vezes, de amizade!).

cibersociabilidade ou: a máquina e a angústia

O presencial é uma forma mais arcaica de sociabilidade. As pessoas se buscam, e nessa busca acontece a linguagem humana. Existe um estar junto silencioso, que o digital não permite. Há certos momentos que só existem no campo do presencial. Mesmo o silêncio cria uma convivialidade. Pela tela não há o contato, a voz, o olhar. Não se sente a pessoa. A tecnologia exclui o pulsante, o vivo do outro.

Levinas: no campo de concentração resolveu estudar o porquê os alemães conseguiram o extermínio em massa das pessoas. Para o autor, os alemães não viam os executados em seu rosto: eles não tinham rosto, eram massa. O rosto é a expressão mais clara do “não matarás”. Esse rosto (que para Levinas é o acesso ao infinito) permite a passagem à humanidade. Nos campos, as pessoas não eram vistas como seres de rosto. Isso construiu o conceito de comunicação do Ciro. O presencial fala mais que a fotografia e mesmo mais que a expressão da própria pessoa, pois o remete à abertura a essa “rostidade”, que não existe no campo do virtual. Na presença capta-se a alma do outro. Seria essa uma comunicação mais direta ou mera transmissão de informação?

Ainda existem amigos? As redes permitem uma dilatação de pessoas conhecidas, mas talvez inversamente à amizade: os amigos são os que visitam na tela? Aqui, até o conceito de celebridade se transmitiu para as pessoas comuns. E o mais preocupante: passa-se à rede o que deveria ficar no privado.

Conversar é acompanhar as reações do outro, diferente dos diálogos eletrônicos. Em tempo real eu não vejo as pessoas. Os diálogos correm em paralelo: desaparecem os rostos. O outro é a produção de mim mesmo. O outro não passa de um sinal de luz no meu computador. O outro na nossa vida perde sua inteireza e fica algo meio nuançado: a pessoa com quem nos relacionamos virtualmente perde sua densidade como pessoa.

O mesmo na relação com as outras coisas. Não estou na cena, apenas fotografo para o face: a vida deixa de ser vivida na inteireza. Eis o paradoxo da presença: estamos no lugar, sem estar no lugar. Pessoas juntas, com o smartphone conversando com outras. Esse é outro efeito da comunicação eletrônica: reúne pessoas que não estão ali. Antes se falava isso da fotografia: o problema é que as pessoas têm angústia do único: precisam reproduzir o único para sempre (cf. Günther Anders, ex-aluno de heidegger, Husserl e Cassirer, ca. 1953). O homem tem inveja da máquina, melhor que o humano porque dura mais tempo e é mais eficiente. Fotografar é uma angústia humana. Parecida com a angústia da morte: que nos leva a produzir cultura para não encarar o fato que todos vamos morrer.

Os mecanismos de comunicação eletrônica operam com uma compulsão: precisamos ser vistos; se os outros não nos vêm, é sinal de que não existimos (a obrigatoriedade de comentar meu post no face).

Esses aparelhos iludem quanto à possibilidade de comunicação. Eu me isolo: sou uma ilha e o outro é um tamagoushi. O “eu moderno”. Longe dos outros, não conheço e nem quero conhecer ninguém. A distância me faz desconhecer quem é o meu próximo e me permite me fechar entre paredes. O mundo passa a ser cheio de perigos, reais e imaginários. Os outros são inimigos. Não é a toa que se fala que a tecnologia estimula a violência e a xenofobia. Sem contato, posso eliminar o outro: os sites de relacionamento; o esquema das salas de bate-papo com câmera; uma imagem perversa do que pode ser o uso dos meios, para marcar as relações desinteressadas pelo outro.

tecnologia expôs a miséria de cada um: “adolescente vende a virgindade para comprar iphone 4” (difícil de crer: http://www.gaz.com.br/noticia/285495-adolescente_vende_virgindade_em_troca_de_iphone_4.html). Estraçalha com a privacidade porque há um sistema que facilita essa atuação e resultados. O face não é só alegria: vejam-se os casos de builyng digital. Outra desconcertante realidade: o caso de “morte assistida” pela internet. A morte do outro vira um fato banalizado e tema de interesse. A vida do outro vira algo indiferente.

Além disso, a tirania da rede: o estar sempre conectado, acessível e o necessitarmos atualização permanente.

O que queremos com a comunicação? Como reagir e se posicionar em relação a tudo isso?

Queremos estar a sós? Às vezes, mas também queremos que o outro nos ache. Precisamos do outro e sua presença real. Isso é deixado em segundo plano pelos meios eletrônicos. Não preciso do outro, que posso acessar a qualquer hora pelo meu dispositivo, dando a impressão que isso substitui o outro. Mas é o outro que nos comprova que estamos vivos. Não posso estar seguro que estou vivo se só opero com este aparelho.

O professor Ciro realizou uma pesquisa com alunos que vivem no exterior sobre a influência dos dispositivos para esses. Resposta: são importantes no momento em que se chega ao outro país. Para eles: isso facilita até certo ponto, mas é necessário deixar de lado e entrar em contato com o “estrangeiro”. O outro fisicamente presente é imprescindível. É uma constatação a posteriori: minha vida é pobre só com esses aparelhos. Há um vazio. Há uma carência do estar junto sem intervenção contínua desses aparelhos.

Trata-se de se abrir para o diferente. Viver cada momento. Relacionar-se com o outro. Parecem antigas tais evidências, mas hoje reaparecem como necessidade vital, como carência que não está consciente nas pessoas. Vivencia-se essa angústia na sociedade de massa. Não sabemos onde está o mal… que pode estar aí. A sociedade de massa provoca uma ruptura. “É preciso se esvaziar de si mesmo; só assim posso receber o outro dentro de mim” (Levinas). No momento em que me esvazio de mim e acolho o outro, posso me abrir para ele, viver intensamente, relacionar-me com ele. Sentir o outro, ouvir o outro. É isso efetivamente que é comunicação. Para viver temos que nos abrir à comunicação.

No momento aberto às perguntas, muitos temas foram brevemente tratados pelo professor Ciro.

facebook e demais redes, não obstante as pertinentes colocações do assessor, têm desempenhado um papel decisivo na comunicação. Jornalismo não é tão neutro e inocente, mas um procedimento em que as pessoas lutam para fazer prevalecer opiniões (o capital da notícia – livro do Ciro). A informação é decisiva na sociedade. De que forma passar a notícia? Os meios de comunicação são dos mesmos donos do poder, que não vão se interessar por temas populares. As redes apareceram como contrainformação. O jornalista está desperto para um outro mundo, em que a pauta não é feita dentro da redação. A pauta é influenciada pelo twitter; a televisão muda o que as pessoas estão assistindo, por causa do posto na rede. O jornalismo está se dobrando a isso e perdendo o monopólio que tinha antes. Isso é construído por participação popular – uma mudança interessante do ponto de vista da informação. As pessoas estão percebendo que está cada vez mais difícil se comunicar pelos meios já “clássicos” e grandes, contaminados por certa ideologia. O jornalista perdeu a dimensão do que é fazer jornalismo. A imprensa perdeu um pouco a capacidade de desdobrar uma notícia e virou meio pouco confiável. Cabe ao jornalista rever isso e considerar que o jornalismo é conflito.

Mas o conflito comunicação presencial x digital não é uma questão de valoração entre o melhor e o pior; são diferentes. A primeira tem seus problemas também. Entraves psicológicos. Demora muito tempo até encontrar espaço comum de aberturas e interesses. O mais importante da comunicação não tem a ver com texto e fala, mas como a coisa que é comunicada: os fatores de entonação, etc. A comunicação presencial precisa ser conquistada. E não é impositiva, mas se dá por estratégia de envolvimento: levar o outro a te ouvir. O que às vezes entra em conflito com resistências interiores: descaracterização, racionalização. Até o momento do “estalo”, a quebra da resistência. O outro sai do seu modo de pensar e entra em outro, o que demanda empenho e tempo. No virtual não tem como jogar com essa insistência. Não há intimidade. Mas conta-se com outros recursos. O cinema não é presencial: se está diante de uma projeção, em uma situação fechada, no escuro. Mas pode-se sair transformado daí – o filme transforma. Não é presencial, mas tem força. O mesmo com o livro. Provocar a mudança é o mais importante. Isso pode ser presencial ou à distância.

Mas, como falar a língua de cada pessoa, ao transmitir uma notícia ou uma programação; atingir o maior número de pessoas, quando cada um tem sua linguagem? É claro, entretanto, que existe uma certa “língua universal”. O que cabe aí, é trabalhar com temas que pertencem a todos e não estão localizados necessariamente no tempo e espaço – independente de grupos. Abandonar a particularização e sectarismos, divisões internas. Trabalhar ideias, princípios, bases, e não aplicações momentâneas disso. No momento em que me descolo de um problema particular, entro em uma linguagem que atinge a todos, criando um meio de atração, que não é para a minha posição particular (o que interessa é criar um campo comum e não criar barreira). Produz-se algo interessante e que não para em fronteiras. Partilhar uma noção geral. Nesse sentido, um dos temas mais difíceis e importantes da comunicação é a questão da alteridade. Hoje nos deparamos com o paradigma do fechamento (uma tendência constante que impede tudo: diálogo, etc. – a tecnologia parece estar levando a maior fechamento: um paradoxo. Criar barreiras é aumentar abismos sociais). Conhecer o outro-que-não-sou-eu se desdobra na tolerância, solidariedade, questões que nos acompanham hoje. As pessoas estão se afastando: viraram espectros, imagens.

Seria esse o desafio de “comunicar num mundo de muitos sinais e informações e quase nenhuma comunicação” – pergunta o Fr. Gustavo Medella, parafraseando o teólogo J. B. Libânio (“crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação”)? Para o Ciro, Libertação é um termo interessante. Libertar-se de vícios, preconceitos. Fazer outra vez o pensamento voltar a ter vida. Muitas pessoas estão mortas por dentro. A cabeça já não trabalha mais, está tomando cada vez mais lugar a repetição das coisas. Nós podemos recuperar a vida em vida. Fazer com que o pensamento volte a ser criativo. O desafio é continuar vivo!

Outro problema que se associou à comunicação: os padrões de consumo mudam por moda. Isso não é comunicação. É uma mudança conjuntural. As pessoas buscarem as coisas só por que passam na TV é absurdo. Comunicação é transformação; ela tem que ser mais que símbolos e consumo. A comunicação transcende os símbolos, mas vai para o caminho das ideias e princípios. A civilização está se desenraizando de valores e concepções de mundo. Pessoas que agem de forma difusa e sem conexão. Falta é trabalhar princípios que causem aderência. É preciso vivenciar as coisas com as pessoas. É necessário conhecer o contexto. É uma questão de conquista, feita através de mecanismos que não são autoritários; é questão de levar o outro a quebrar suas próprias resistências e se sensibilizar. Isso se consegue na arte. Mas também na reportagem. Esta tem a capacidade de ficcionalizar, de envolver – não é o envolvimento da publicidade. É um envolvimento mais ambicioso. Pra isso é preciso respeitar o “receptor”, conhecendo seus limites e história de vida. A partir dele, produzir o discurso. Sentir o outro, para aí trabalhar a relação com o outro. Aí se consegue abrir-se para o outro. O que não garante que o outro vai fazer o que você quer, mas que ele vai se transformar em alguma medida.
Por: Fr. Rafael Teixeira do Nascimento OFM
(Publicado em Instituto Teológico Franciscano)

Fonte: Aleteia